segunda-feira, 29 de março de 2010

O Livro de Eli



   De vez em quando, no meio dessa mesmice que são os filmes de ação hoje em dia, surge uma pérola, um filme especial que quebra os moldes que estão sendo exaustivamente desgastados. Filmes que são empolgantes, emocionantes e, acima de tudo, são originais. O Livro de Eli, um filme dos Irmãos Hughes (diretores de Do Inferno), é um desses filmes.

   O filme conta a história de Eli ( Denzel Washington ), um andarilho que, em um ondo pós-apocalíptico, é o suposto detentor da última Bíblia existente, já que durante a guerra que devastou o mundo, todos os exemplares foram queimados (seria a Guerra Santa?). Eli caminha em direção ao oeste, como lhe instriu uma voz muitos anos atrás. Durante a sua jornada, ele irá cruzar o caminho de Carnegie ( Gary Oldman, mais uma vez ótimo como vilão ), uma espécie de xerife de um pequeno vilarejo de sobreviventes, que busca incansavelmente por uma Bíblia, pois deseja usar as Palavras de Deus para expandir o seu poder e o seu domínio sobre as poucas pessoas que sobraram vivas.

   Como uma suposta guerra nuclear aconteceu, o mundo virou uma espécie de deserto gigante e isso é muito bem retratado com a ótima escolha da pelate de cores uitlizada, que torna as imagens mais “pálidas”, aumentando a sensação de desolação.  

   Os diretores fazem ótimas escolhas ao longo do filme, além da estilização das cores, eles decidem não fazer cortes rápidos durante as cenas de lutas, coisa que vai na contramão da tendência atual e faz bem ao filme, pois ressalta o ótimo trabalho de coreografia das lutas, que são dignas dos clássicos “filmes de espadas” chineses e japoneses, com destaque para uma cena de luta, envolvendo 7 ou 8 pessoas, filmada em plano-sequência ( uma tomada única, sem cortes ).

   Outra boa escolha é não abusar do didatismo, ou seja, o filme deixa algumas questões em aberto, ou apenas nos indica através de imagens, sem utilizar de diálogos desnecessários para “levar o espectador pela mão”, por exemplo, em nenhum momento o filme nos fala que foi uma guerra nuclear, porém na cena inicial vemos Eli, dentro de uma roupa de contenção, caçando um gato. Cada um pode interpretar como quer, mas pelo menos incita o espectador a pensar um pouco sobre o que está assistindo.

   Apesar da história ter um cunho religioso, os ateus e agnósticos mais fervorosos podem ver o filme como uma palestra sobre cristianismo (obs: sou agnóstico e não me importei), o filme levanta boas questões sobre o que é justificável e o que é condenável quando todas as formas de regulamentos sociais foram jogados pela janela quando o mundo foi destruído, além de ressaltar a importância dos livros, coisa que hoje em dia está meio que sendo passada para trás, com os avanços tecnológicos e a infantilização da sociedade.

   A direção extremamente competente, aliada a ótimas cenas de ação e uma história original, que não pesa no didatismo e faz o espectador botar a cabeça para pensar um pouco fazem de  O Livro de Eli um ótimo filme de ação e, além disso, uma ótima diversão.


8.5 / 10



sexta-feira, 19 de março de 2010

The Cove

   

  
   The Cove (A Angra, em tradução literal) é um filme extremamente forte. Apresentando uma situação que muitas pessoas nunca tinham ouvido falar de, o documentário vencedor do Oscar impressiona, choca e emociona o espectador.

   O filme documenta a história de Rick O’Barry, ativista que começou a sua carreira como o treinador dos golfinhos utilizados no programa de televisão Flipper. Após a morte do golfinho, devido à uma depressão causada pela vida em cativeiro, o treinador decidiu desmascarar os abusos feitos aos cetáceos que vivem em cativeiro e, também, parte em uma missão para  derrubar as indústrias que massacram milhares desses animais por ano.

   The Cove foca no que acontece em Taiji, uma pequena cidade no Japão, onde a indústria pesqueira de golfinhos pratica atrocidades e, aproveita a alienação da população, para ganhar muito dinheiro de modo anti-ético. O filme levanta informações sobre o mercado de pesca no mundo e para onde estamos indo com esse consumo desenfreado, além de mostrar, também, os riscos do consumo de carnes contaminadas com níveis alarmantes de mercúrio, outro fato que foge do conehcimento da população.

   Com tom de thriller de espionagem, o diretor do filme monta uma equipe com a ajuda de Rick, para tentar documentar o que acontece na angra do título. Com operações dignas de dar orgulho aos oficiais de operações especiais de qualquer exército, o grupo tem que lidar com agentes das companhias pesqueiras que ficam, constatemente provocando os envolvidos no projeto, tentando criar motivo para jogá-los na cadeia.

   Essa montagem do filme, como um thriller de espionagem, funciona muito bem, principalmente nas sequências onde o grupo está tentando plantar as ferramentas para o monitoramento da angra, onde a tensão chega a ser sufocante, pois faz o espectador imaginar o que os pescadores poderiam fazer se capturassem os  “espiões”, já que fazem o impensável com os animais.

   As imagens, extremamente gráficas, causam repulsa e tristeza, porém trazem à luz um abuso que é despercebido pelo mundo e liberado legalmente, já que as regulações internacionais só dizem respeito às baleias, que sofriam o mesmo abuso algumas décadas atrás.

   Não é à toa que o documentário ganhou o Oscar esse ano. O filme é muito bem montado e o tema é muito pertinente. Apesar da tristeza que dá ao assistir as cenas mais pesadas do filme, é uma situação que todo mundo devia ter consciência. Isso é jornalismo investigativo em sua melhor forma.

OBS: Quem quiser assistir ao filme, nesse site está disponível para quem quiser ver. O site funciona com streaming (mesmo esquema do YouTube) então não precisa baixar nada.


9.5 / 10

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ilha Do Medo




   “Ilha do Medo” marca a volta de Martin Scorsese ao gênero do suspense, o último filme do diretor  nesse estilo havia sido “Cabo Do Medo” em 1991. O filme mostra, também, que Scorsese não se aquietou depois de, finalmente, ganhar um Oscar, já que esse é um dos projetos mais corajosos da carreira do diretor.

    O filme, adaptado do ótimo livro de Dennis Lehane (autor de Sobre Meninos e Lobos), conta a história do agente federal Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio, em uma ótima atuação) e de seu parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo, também em atuação surpreendente), que são chamados à Shutter Island, um hospício/prisão situado em uma ilha na costa de Boston, para investigar o sumiço de uma paciente. Logo que chegam no local, os agentes percebem que há algo mais ocorrendo por ali, já que são recebidos com frieza e desconfiança por todos os funcionários do lugar.

   A direção de Scorsese é impecável como sempre e da um tom meio noir à investigação. O maior destaque vai para as sequências de sonho do protagonista, onde o diretor utiliza uma paleta de cores mais claras, que dá uma idéia de uma vívida lembrança e faz contraste com os tons acizentados utilizados pelo diretor na ilha. Nessas sequências, Scorsese abusa de câmera lenta e objetos voando na tela para criar uma sensação de leveza e tornar a imagem um tanto quanto etérea.

   Outro destaque do filme é a atuação de Leonardo DiCaprio, que faz o atormentado agente federal Teddy Daniels. Assim como a personagem de Jack Nicholson em “O Iluminado”, que se via trancafiado em uma edificação remota e, tinha que encarar fantasmas do seu passado, Teddy Daniels também tem sua cota de bagagem que leva consigo para a ilha e, ao longo da investigação, terá de lidar com essas fantasmas do passado.

   O elenco de apoio do filme também não faz feio, com Ben Kingsley como o doutor chefe da instituição, que só alimenta a chama da desconfiança do protagonista já que apresenta sempre uma visão razoável e analítica, como se tudo e todos fossem seus pacientes, e Max Von Sydow, que aparece em pequeno papel, mas não faz feio quanto está em cena, como um médico da instituição, além outros atores, não tão conhecidos pelo grande público, que fazem pequenas, mas memoráveis aparições.

   Como todas adaptações de livros pra a o cinema, Ilha Do Medo tem que modificar um pouco a trama para poder funcionar como filme, porém esse é um dos raros casos onde o roteiro faz um excelente trabalho em adaptar o livro. As únicas informações que foram retiradas do livro para o filme não fazem falta alguma à história e dão uma fluidez melhor a situação apresentada.

   Com cenas muito gráficas e um tema pesado, não é à toa que as críticas para Ilha do Medo estão saíndo tão polarizadas. O filme é um projeto muito corajoso de Martin Scorsese que mostra que o diretor não perdeu vigor depois de ganhar uma estatueta da academia.

   São filmes como esse que fazem as pessoas, pelo menos as que realmente gostam de cinema, desejar que os filmes de terror e suspense fossem todos dirigidos por diretores de alto escalão.


8.75 / 10