“Ilha do Medo” marca a volta de Martin Scorsese ao gênero do suspense, o último filme do diretor nesse estilo havia sido “Cabo Do Medo” em 1991. O filme mostra, também, que Scorsese não se aquietou depois de, finalmente, ganhar um Oscar, já que esse é um dos projetos mais corajosos da carreira do diretor.
O filme, adaptado do ótimo livro de Dennis Lehane (autor de Sobre Meninos e Lobos), conta a história do agente federal Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio, em uma ótima atuação) e de seu parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo, também em atuação surpreendente), que são chamados à Shutter Island, um hospício/prisão situado em uma ilha na costa de Boston, para investigar o sumiço de uma paciente. Logo que chegam no local, os agentes percebem que há algo mais ocorrendo por ali, já que são recebidos com frieza e desconfiança por todos os funcionários do lugar.
A direção de Scorsese é impecável como sempre e da um tom meio noir à investigação. O maior destaque vai para as sequências de sonho do protagonista, onde o diretor utiliza uma paleta de cores mais claras, que dá uma idéia de uma vívida lembrança e faz contraste com os tons acizentados utilizados pelo diretor na ilha. Nessas sequências, Scorsese abusa de câmera lenta e objetos voando na tela para criar uma sensação de leveza e tornar a imagem um tanto quanto etérea.
Outro destaque do filme é a atuação de Leonardo DiCaprio, que faz o atormentado agente federal Teddy Daniels. Assim como a personagem de Jack Nicholson em “O Iluminado”, que se via trancafiado em uma edificação remota e, tinha que encarar fantasmas do seu passado, Teddy Daniels também tem sua cota de bagagem que leva consigo para a ilha e, ao longo da investigação, terá de lidar com essas fantasmas do passado.
O elenco de apoio do filme também não faz feio, com Ben Kingsley como o doutor chefe da instituição, que só alimenta a chama da desconfiança do protagonista já que apresenta sempre uma visão razoável e analítica, como se tudo e todos fossem seus pacientes, e Max Von Sydow, que aparece em pequeno papel, mas não faz feio quanto está em cena, como um médico da instituição, além outros atores, não tão conhecidos pelo grande público, que fazem pequenas, mas memoráveis aparições.
Como todas adaptações de livros pra a o cinema, Ilha Do Medo tem que modificar um pouco a trama para poder funcionar como filme, porém esse é um dos raros casos onde o roteiro faz um excelente trabalho em adaptar o livro. As únicas informações que foram retiradas do livro para o filme não fazem falta alguma à história e dão uma fluidez melhor a situação apresentada.
Com cenas muito gráficas e um tema pesado, não é à toa que as críticas para Ilha do Medo estão saíndo tão polarizadas. O filme é um projeto muito corajoso de Martin Scorsese que mostra que o diretor não perdeu vigor depois de ganhar uma estatueta da academia.
São filmes como esse que fazem as pessoas, pelo menos as que realmente gostam de cinema, desejar que os filmes de terror e suspense fossem todos dirigidos por diretores de alto escalão.
8.75 / 10
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